sábado, janeiro 19, 2008

"ISRAEL, PARA MIM"

Não resistimos a colocar neste blog o artigo publicado hoje no semanário "Sexta", que transcrevemos na íntegra, em que o sr. embaixador de Israel em Portugal testemunha daquilo que Israel representa para ele e certamente para muitos nós...

"Israel, para mim"
David Ben Gurion, o primeiro primeiro-ministro de Israel, disse uma vez: «Em Israel, ser realista significa acreditar em milagres.» Tal era tão verdade em 1948 como o é em 2008. Ao longo dos últimos sessenta anos, a minha vida tem-se desenrolado em paralelo com a vida do Estado de Israel. Fomos jovens e envelhecemos juntos.

Israel, apesar dos vários obstáculos que tem enfrentado, desenvolveu-se e tornou-se um Estado moderno e vibrante. Muitos aspectos da sua sociedade foram mudando à medida que o país se desenvolveu e prosperou. De 600.000 habitantes em 1948, Israel conta agora com uma população que ultrapassa os sete milhões. Desenvolvemos uma agricultura rica e florescente num território em que três terços são deserto. Num país em que escasseia a água, os nossos campos são irrigados por inovadores sistemas de rega desenvolvidos por nós. Construímos novas e modernas cidades em harmonia com antigos locais biblicos. Inventámos novas palavras para uma língua antiga. Fizemos muito em sessenta anos.

Israel é o país de que me orgulho em chamar meu e que nunca tomarei por garantido.

Israel para mim são sítios, sons e os cheiros da minha infância. Um bairro de Jerusalém cheio de imigrantes vindos de vários países, Polónia, Marrocos, Rússia, Iraque; uma enorme variedade de línguas, sabores e costumes, dos quais, nós, os filhos, tornar-se-iam os novos israelitas. Um «Sabra» é um judeu nascido em Israel. Sabra é também o fruto do cacto, que pica por fora mas é doce por dentro. Esta é uma imagem que descreve bem o nosso povo.

Israel é um país de contradições. Somos líderes mundiais em agricultura, high-tech e medicina. Temos universidades e centros de investigação. Temos vencedores de prémios Nobel e até vencedores do Festival da Eurovisão. Temos tempo para ir ao teatro, ler livros e ir a jogos de futebol. Toda esta vida plena existe enquanto continuamos a lutar pelo direito de existir. Israel é um país cujo direito de existir continua a ser abertamente desafiado e posto em causa por países como o Irão. Nenhuma outra Nação soberana tem de conviver com esta ameaça quase diariamente. Mas nós sim. Poderíamos ter-nos tornado uma sociedade amarga e militarizada, mas não o fizemos.

O facto de termos vidas normais, de nos distinguirmos em vários campos e de sabermos conviver e integrar os problemas na nossa sociedade e não deixarmos que esses assumam o controlo da mesma ? é para mim um milagre da vida israelita.

Israel para mim é a Terra da Bíblia.

O Antigo Testamento é sagrado quer para cristãos quer para judeus, mas para mim é muito mais do que um mero relato de histórias sagradas. Quando me desloco pelas ruas de Jerusalém, sei que foi exactamente por aí que passou o Rei David e posso ainda tocar no que resta de uma das paredes do Templo construído pelo Rei Salomão. Quando abro a minha boca para falar, estou a usar a mesma língua da Bíblia. Os meus filhos ouvem música rock cantada na mesma língua falada por Abraão e Moisés.

A língua hebraica esteve adormecida durante dois mil anos e era usada apenas para oração. Hoje é uma língua viva, o que eu considero outro milagre da nossa realidade.

Israel para mim é a Primavera ? altura do ano em que se assinalam três datas muito importantes: o Dia da Memória do Holocausto, o Dia da Memória dos Soldados e o Dia da Independência. Estas três datas são próximas e estão cravadas no nosso destino enquanto Nação. O Holocausto tornou claro ao mundo que os judeus precisavam de uma Pátria. Os meus avós, que viviam na Polónia e não tinham uma pátria, pagaram um preço elevado por isso mesmo. Para que nunca mais se repitam os horrores do passado, temos de continuar a lutar uma e outra vez pelo direito de viver nesta Terra. As muitas guerras e os inúmeros ataques terroristas ocorridos nestes sessenta anos são demasiado. Pagamos um elevado preço por termos de lutar pelo nosso direito de existir. Muito da nossa existência está nas mãos do nosso exército, cujo objectivo é defender-nos.

Israel é um país multicultural, um colorido caleidoscópio de gente. O meu Israel é um país judaico e democrático, com uma sociedade aberta e plural em que cada duas pessoas têm três opiniões diferentes e todas são livremente expressas. Desde 1948, Israel absorveu judeus dos quatro cantos do mundo. Muitos vieram em busca de refúgio, outros porque viram neste país o seu destino judaico. Juntos construíram um Estado democrático com eleições livres, imprensa livre, liberdade de opinião e de crença.

Para mim, Israel é, para além e acima de tudo, a minha Casa.

*Embaixador de Israel em Lisboa

Publicado no semanário "Sexta", edição de 18/1/08.

Shalom, Israel!

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