Quem nunca viu o deserto ficará certamente impressionado com a imensidão, silêncio e contraste que a vista do deserto da Judeia proporciona: é um espaço muito montanhoso, com muito pouca água e vegetação, extremamente seco, muito quente durante o dia e frio à noite, lugar de abrigo dos beduínos e seus rebanhos, dos répteis e de algumas das raras espécies de animais que por ali vão procurando o seu refúgio.
O deserto da Judeia é por diversas vezes referido nas narrativas bíblicas, desde as travessias dos patriarcas por aquelas bandas, às dramáticas fugas do futuro rei David face às ameaças de morte do rei Saul e que o levaram a refugiar-se nas grutas de Ein Gedi, e, nas páginas do Novo Testamento, através do ministério profético itinerante e extremamente ascético de João Baptista.
O último bastião judeu ingloriamente conquistado pelos exércitos romanos foi a montanha de Massada, em pleno deserto da Judeia e próxima ao Mar Morto, onde, após 3 anos de cerco e infrutíferos ataques, os soldados romanos construíram uma rampa que lhes permitiu o acesso a esta fortaleza construída pelo rei Herodes e praticamente inexpugnável, dando conta que os 960 judeus ali resistentes tinham preferido morrer pela sua honra - num horripilante exercício de suicídio colectivo - do que entregarem-se aos invasores romanos. Estava-se no ano 73 d.C., já Jerusalém e o seu Templo haviam sido arrasados pelos cruéis soldados romanos.
Esta foi uma história que chocou o mundo e que ainda hoje leva os pára-quedistas israelitas a proferirem no seu juramento de bandeira no cimo da fortaleza de Massada: "Massada nunca mais cairá!"
A subida ao cimo da fortaleza é feita por um espaçoso teleférico, e a taxa de esforço para esta visita às ruínas é baixa, compensada mesmo assim pela vasta visão que se consegue de toda a planície do Mar Morto e das montanhas de Moabe, do outro lado do mar, no actual território da Jordânia.
No cimo desta montanha podemos visitar o que resta do grande palácio de Inverno que o rei Herodes ali mandou construir, conhecendo-se ainda uma das salas de banhos "turcos" onde a sua família podia desfrutar de todos os prazeres carnais correspondentes à posição social que ocupavam.
Podem-se ainda ver com extrema nitidez as marcas dos acampamentos romanos, em forma de quadrado, e a rampa que permitiu aos romanos invadir o bastião judeu.
Para além das cisternas, celeiros, armazéns e mikvés (tanques para os banhos rituais), pudemos ainda entrar nas ruínas de uma antiga igreja cristã bizantina, e observar algumas das pedras que foram utilizadas pelos romanos para derrubar as muralhas desta fortaleza.
A mudança no deserto seco e quase insuportável chama-se "oásis". A palavra em si já revela a diferença entre deserto e um espaço fértil onde se pode encontrar água fresca, daí a presença da vegetação, arvoredo e frondosas tamareiras. Parar e descansar num oásis é de facto uma alegria e conforto para os caminhantes que outrora percorriam as imensidões desérticas a pé, ou montados nos seus camelos ou cavalos.
EIN GEDI é um lugar paradisíaco, onde podemos descansar à sombra das tamareiras, caminhar pelos trilhos que nos levam a belíssimas e refrescantes cascatas, e encontrar animais raros e cuja presença atrai a atenção imediata das nossas câmaras de fotografar.
Ali se escondeu David quando perseguido pelo rei Saul (1 Samuel 24), e tanto o oásis como os seus vinhedos são mencionados por Salomão no seu Livro de Cantares (1:14).
O grupo dos 59 excursionistas conseguiu caminhar até à "primeira estação", ou seja: a primeira cascata visível no trilho e que levou a que alguns não resistissem a entrar na água e refrescar os seus corpos com aquelas águas nascidas literalmente no deserto, e que certamente serviram também de refrigério ao rei David e a muitas outras personagens bíblicas que por ali andaram.
O elevado calor e o cansaço já visível no grupo impediu-nos de arriscar a "segunda estação", onde encontraríamos a segunda cascata, já bem maior, mas acessível apenas aos mais ousados, uma vez que o trilho é bastante irregular e montanhoso, requerendo um elevado esforço que achámos por bem não exigir aos nossos companheiros de viagem.
Com tanto desgaste calórico, as cabeças já não conseguiam pensar noutra coisa que não no merecido repasto. Atendendo a essa solicitação visível nos olhares carentes dos nossos companheiros de viagem - com a qual nos identificámos sem reservas - decidimos encurtar a visita às ruínas de Qumran ao essencial. De facto, Qumram não tem muito para ver. A grande atracção são as grutas onde em 1947 foram encontradas "por casualidade" as ânforas que continham um dos maiores tesouros da História: nada mais nada menos que os famosos manuscritos do Mar Morto, muitos deles com trechos inteiros de livros do Antigo Testamento! Logo essa descoberta despertou a cobiça mundial, sendo até hoje ainda motivo de conflitos legais entre as autoridades israelitas detentoras destes preciosíssimos manuscritos e os palestinianos, que - conforme lhes é habitual - nada fizeram pela cultura, mas sempre se acham senhores do respectivo património...
A descoberta dos manuscritos do Mar Morto foi sem dúvida a maior de toda a ciência arqueológica em todo o século 20, ocorrendo num ano repleto de significado para o povo judeu, o mesmo em que as Nações Unidas aprovaram a partição da Palestina entre 2 povos, o judeu e o árabe.
Em Qumran viveu durante algum tempo uma comunidade de judeus fundamentalistas, os essénios, que ali praticaram uma vida comunitária austera e extremamente religiosa, em contraponto àquilo que julgavam ser a decadência da vida religiosa em Jerusalém.
Tal era a austeridade e a rígida disciplina vividas naquela comunidade, que muitos julgam ter sido possível o profeta João Baptista ter por ali passado e até vivido durante um curto espaço de tempo.
Apesar do calor, pudemos visitar algumas das ruínas dos armazéns, do escritório onde os essénios se dedicavam à cópia dos manuscritos do Antigo Testamento, as cisternas, os mikvés, etc.
Este mar, referido na Bíblia como "mar salgado" está situado no ponto mais baixo da terra, a mais de 423 metros abaixo do nível das águas do mar.
A sua extrema salinidade (com 8 vezes mais sal que os oceanos) e a presença de inúmeros minerais e fosfatos nas suas águas permite que o visitante não afunde, antes consiga sem qualquer esforço boiar à sua superfície. Milhões de turistas ali se deslocam anualmente para experimentar este fenómeno, mas também para se untarem com a lama preta ali encontrada por todo o lado - uma lama terapêutica, cujos efeitos são reconhecidos para tratamentos de doenças de pele, como a psoríase e outras. Milhares de utentes deslocam-se ao Mar Morto anualmente para estes mesmos tratamentos com resultados verdadeiramente assombrosos nos seus variados spas.
Do Mar Morto são extraídos produtos benéficos para a saúde, encontrados à venda por todas as lojas de Israel e da Jordânia, país que divide a bênção deste mar com Israel.
Descer e flutuar nas águas do Mar Morto é uma "obrigação" para todo o visitante, pelo que a grande maioria dos nossos excursionistas não se fizeram de rogados, e aproveitaram aquela hora concedida nomeio daquela tarde para experimentarem a realidade das águas e divertirem-se à custa das imagens produzidas por corpos untados de lama preta e capazes de flutuar sem esforço à superfície daquelas paradisíacas águas.
Mas a nossa casa era Jerusalém. E foi a Jerusalém que subimos, fascinados e deleitados com o relaxamento físico e mental produzidos por aquelas águas.
Continua...
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