A tão aguardada abertura dos arquivos do Vaticano durou apenas uma semana, por causa da eclosão da pandemia do coronavírus. Mas mesmo assim, essa semana foi suficiente para que alguns documentos relacionados com o "silêncio" do papa Pio XII durante o genocídio do Holocausto viessem à luz, comprovando a culpabilidade do então chefe supremo da Igreja Católica Romana.
Durante essa semana de pesquisas, investigadores alemães comprovaram que o papa, que nunca criticou directamente o massacre nazi dos judeus, teve conhecimento antecipado através das suas próprias fontes sobre a campanha de assassinatos promovida por Berlim.
Mas ele simplesmente decidiu não revelar esses factos ao governo norte-americano depois que um assessor ter alegado que judeus e ucranianos - as suas principais fontes - não eram confiáveis, porque "mentiam e exageravam."
Os investigadores descobriram também que o Vaticano escondeu estes e outros documentos sensíveis, presumidamente para proteger a imagem de Pio XII. Essa descoberta provocará um grande embaraço à Igreja Católica Romana, ainda a braços com a sua ocultação dos escândalos sexuais.
Estes relatos surgiram na Alemanha, de onde saíram 7 investigadores da Universidade de Munster que, apesar da crise com o coronavírus na Itália, foram a Roma no dia 2 de Março para a abertura histórica dos documentos de Pio XII relacionados com a Segunda Guerra Mundial. Esperavam-se outros pesquisadores vindos dos Estados e Unidos e de Israel, mas não vieram, provavelmente por causa da pandemia.
Hubert Wolf, alemão, de 60 anos, historiador da Igreja Católica que tem feito pesquisas nos Arquivos Secretos do Vaticano - agora denominado Arquivo Apostólico - liderou a equipa dos investigadores alemães. Como sacerdote católico e autor profícuo , Wolf tem conquistado a reputação de pesquisador objectivo e reconhecido analista.
"Temos que em primeiro lugar investigar estas fontes recentemente disponíveis" - afirmou o sacerdote a um jornal alemão, acrescentando: "Se a partir deste estudo das fontes, Pio XII sair com uma melhor imagem, maravilha. Se ele sair pior, temos de o aceitar também."
"PAPA DO HITLER"
Pio XII chefiou a Igreja Católica Romana entre 1939 e 1958 e é actualmente um candidato à canonização, sendo o pontífice mais controverso do século 20. A sua falha em denunciar publicamente o Holocausto conferiu-lhe o título de "papa do Hitler", tendo os críticos solicitado desde há décadas que os seus arquivos do tempo da guerra fossem abertos para escrutínio.
Os defensores do papa alegam desde há muito que ele não podia falar mais abertamente por medo de uma retaliação nazi, e costumam citar a sua decisão de esconder judeus no Vaticano e em igrejas e mosteiros como prova das suas boas acções. Eles lembram que o Vaticano já tinha publicado uma série de documentos em 11 volumes seleccionados dos seus arquivos, de forma a provar a sua inocência.
Em 1999 foi lançada uma comissão judaico-católica para tentar resolver esta questão, uma vez que o Vaticano só pretendia abrir os arquivos em 2028.
CADEIA DE EVENTOS
A cadeia de eventos inicia-se em 27 de Setembro de 1942, quando um diplomata norte-americano deu ao Vaticano um relatório secreto sobre o assassínio em massa de judeus do gueto de Varsóvia. Segundo o relatório, cerca de 100.000 judeus haviam sido massacrados em Varsóvia e arredores, acrescentando que mais 50.000 haviam sido mortos em Lviv, que na altura era parte da Ucrânia ocupada pelos nazis.
O relatório baseava-se em informações prestadas pela representação de Genebra da Agência Judaica para a Palestina. Washington queria saber se o Vaticano, que recebia informações dos católicos de todo o mundo, poderia confirmar isso a partir das suas próprias fontes. Em caso positivo, teria o Vaticano algumas ideias sobre como se poderia mobilizar a opinião pública contra estes factos?
Segundo os pesquisadores, o arquivo incluía uma anotação confirmando que Pio XII tinha lido o relatório. Incluía ainda duas cartas para o Vaticano que corroboravam independentemente os relatórios sobre os massacres em Varsóvia e Lviv.
Um mês antes da solicitação dos americanos o arcebispo grego católico ucraniano de Lviv, Andrey Sheptytsky, tinha enviado a Pio XII uma carta relatando o massacre de 200.000 judeus massacrados na Ucrânia sob a "revoltante diabólica" ocupação germânica.
Em meados de Setembro, um comerciante italiano chamado Malvezzi informou o monsenhor Giovanni Battista Montini, futuro papa Paulo VI, da "incrível matança" de judeus que ele havia visto durante a sua recente visita a Varsóvia. Montini reportou isso a um seu superior, o secretário de estado do Vaticano, cardeal Luigi Maglione.
Mas o Vaticano respondeu a Washington que não podia confirmar o relatório da Agência Judaica...
A base para isso - Wolf testemunhou ao semanário alemão "Die Zeit" - era uma carta de um outro membro do staff do secretariado de estado, Angelo Dell'Acqua, mais tarde cardeal. Nessa carta, ele alertava contra acreditar-se nos relatos judaicos, porque os judeus "exageravam facilmente", e os "orientais" - uma referência ao arcebispo Sheptytsky - "não são realmente um exemplo de honestidade."
Essa carta encontra-se no arquivo, mas não foi incluída nos 11 volumes da série de documentos dos dias da guerra que o Vaticano publicou para defender a reputação de Pio XII.
"Este é um documento chave que nos foi ocultado por ser claramente antissemita e por mostrar porque é que Pio XII não falou contra o Holocausto" - revelou Wolf.
3 FOTOGRAFIAS REVELADORAS MAS IGNORADAS
A equipa pesquisadora encontrou também três pequenas fotografias revelando presos em campos de concentração e corpos atirados para uma vala comum. Um informador judeu tinha-as entregue ao embaixador do Vaticano, ou núncio, na Suíça (um país neutro), para serem enviadas para o Vaticano, tendo a Santa Sé confirmado a sua recepção numa carta escrita duas semanas depois.
REDE CLANDESTINA PARA A FUGA DE NAZIS
Wolf relatou ainda à agência noticiosa católica alemã "KNA" que um outro assunto potencialmente embaraçoso era a "Rat Line", uma rede informal que ajudou nazis do topo da organização a escaparem da Europa central para a Itália, e de lá para a América do Sul.
Há muito que se sabe que a Igreja Católica - possivelmente com a cobertura dos EUA - ajudou ex-nazis, como foi o caso do burocrata do Holocausto Adolf Eichmann, o médico do campo de concentração Josef Mengele, e o oficial da Gestapo Klaus Barbie, a fugirem para a América do Sul. Estes homens eram anti-comunistas, e Roma e Washington consideravam o comunismo como seu principal inimigo.
Segundo Wolf, relatórios do núncio papal em Buenos Aires podem confirmar o papel do Vaticano na "Rat Line".
"Que sabia ele sobre esta actividade?" - perguntava ele.
"O Vaticano pode ter conseguido arranjar-lhes passaportes...O núncio era o intermediário? A embaixada argentina em Roma fez todo o trabalho?"
Outras questões que Wolf quer pesquisar são as relações de Pio XII com as redes políticas e de espionagem dos EUA durante e depois da guerra, o seu papel na promoção da unidade europeia, e as suas ideias sobre o alinhamento com os muçulmanos numa campanha contra o comunismo.
O arquivo vai permanecer encerrado até ao Verão, o que Wolf considera uma catástrofe para o seu trabalho de investigação, acrescentando: "Há suficientes questões para manter ocupada uma equipa durante 10 anos."
Enfim...a verdade sempre acaba por vir ao de cima, e a Igreja Católica Romana tem agora uma situação extremamente embaraçosa em mãos...
Shalom, Israel!
2 comentários:
Igreja romana fez a inquisição o perigo continua
Nada de surpreendente por parte dos grandes responsáveis pela Santa Inquisição. Tudo em conformidade.
Mas preparem-se para o próximo cenário: a aliança total com o império da Besta.
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