quinta-feira, junho 22, 2023

ENCONTRADA EM HAIFA TINTURARIA DE PÚRPURA COM 3 MIL ANOS


Como se sabe, o antigo Templo de Jerusalém tinha as suas cortinas e robes adornados de cor púrpura e escarlate. Mas, de onde provinha essa cor tão difícil de conseguir?

Há muito que se sabe que o corante roxo era obtido a partir de uma glândula encontrada em três tipos de caracóis marinhos, normalmente denominados como caracóis das rochas, ou murex, que se acham ao longo da costa de Israel. O corante natural produzia tanto a cor púrpura (argaman), como a roxa (techelet) referida na Bíblia hebraica. A cor é tão forte que consegue ficar fixada por milhares de anos, o que significa que fibras de tecido tingidas há 3.000 anos ainda mantêm a sua forte matiz. 


Foi agora descoberta em Haifa uma antiquíssima tinturaria com 3 mil anos onde eram produzidas estas cores raríssimas utilizadas no Templo de Jerusalém. 

Esta nova pesquisa sugere que os israelitas poderão ter conquistado esta tinturaria aos fenícios de forma a poderem obter um melhor acesso ao dispendioso corante roxo e assim criar riqueza para o império em crescimento. 

Dependendo da quantidade de tempo que a cor púrpura ficou exposta ao sol durante o processo de produção, a cor roxa pode variar de um azul brilhante esverdeado a um forte vermelho púrpura. 

"Esta cor púrpura nunca desaparece, e a tecnologia que possibilita o tingimento de fibras foi certamente inventada no Levante, embora normalmente se atribua a mesma aos fenícios libaneses" - afirmou o professor Ayelet Gilboa, da Universidade de Haifa, responsável pelo projecto de investigação. 


A púrpura é tradicionalmente considerada a cor da realeza, devido ao alto custo do tingimento a partir dos caracóis marinhos. 

"Ela (a púrpura) era utilizada para a parochet (cortina da Arca da Aliança no Templo), e as pessoas da elite costumavam roupas que incluíam fibras de púrpura, incluindo os sumo sacerdotes, o rei, e qualquer um que tivesse muito dinheiro" - afirmou Gilboa. 

O corante roxo é muitas vezes referido como "púrpura de Tiro", pois calcula-se que tenha tido origem na cidade costeira fenícia de Tiro, no actual Líbano. A sua produção era um dos principais motores económicos dos fenícios. A antiga Tiro fica a cerca de 50 quilómetros a Norte de Haifa.

O historiador romano Vitruvius dissertou sobre esta cor no seu opus "10 Livros sobre Arquitectura", publicados cerca de 27 a.C., perto de 1.000 anos depois desta tinturaria encontrada em Tel Shiqmona já estar em produção. 

Esta tinturaria localiza-se em Tel Shiqmona, na margem Sul da costa de Haifa, e foi inicialmente escavada nos anos 60 e 70 do século passado, tendo na altura sido encontradas grande cubas de cerâmica para o tingimento da púrpura e ainda uma grande quantidade de cerâmica fenícia. Recentes escavações têm levado à conclusão de que este local foi posteriormente conquistado pelos israelitas por volta do século 9 a.C. A fábrica de tinturaria terá sido destruída e reedificada no início do reinado do rei Acabe, tendo sido encontrados muros erigidos pelos israelitas, selos israelitas e casas com quatro compartimentos que eram comuns na arquitectura israelita daquela época. Estas descobertas, conjuntamente com textos históricos e o conhecimento da situação geopolítica da altura levou os arqueólogos a concluir que o sítio estava sob administração israelita, mas eram os fenícios que trabalhavam na produção da cor púrpura. Essa conclusão tem a ver também com o facto de, ao contrário dos fenícios, os israelitas não serem grandes conhecedores dos mares. 

RIQUEZA E REALEZA

Não só era esta cor algo de muito raro e caro, como também tinha um grande significado histórico e sagrados para os judeus. 

A região onde foi descoberta a tinturaria é a melhor para se encontrar estes caracóis marinhos, havendo ali um propício habitat para os caracóis que dão origem à produção da púrpura. 

A Bíblia hebraica menciona esta cor dezenas de vezes nos seus textos, contudo, e para além de outros textos, as mesmas referências podem ser encontradas no famoso cilindro de Senaqueribe (690 a.C.)

A verdadeira púrpura está associada à realeza e ao sacerdócio, bem como aos têxteis usados no Tabernáculo e no Templo: "Depois farás um véu de azul, e púrpura, e carmesim, e de linho fino torcido..." - Livro do Êxodo 26.31. 

Já em 2021 pesquisadores israelitas anunciaram a descoberta de três trapos de têxteis no Sul de Israel coloridos com o real tingimento roxo mencionado na Bíblia como argaman, e datados de cerca de 1.000 a.C., a época do rei David. Essas fibras de púrpura são actualmente as mais antigas jamais descobertas em Israel.



Segundo se sabe, cada glândula extraída destes moluscos marinhos produz menos de uma grama de corante roxo, pelo que, para que se consiga um simples quilo desta essência serão necessárias milhares e milhares de conchas marinhas de cujo interior se consegue esta preciosidade. Calcula-se que o seu valor excedia o do ouro em 20 vezes...!

Shalom, Israel!


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